quarta-feira, 31 de julho de 2019

Soneto ao som, ao cheiro e ao roubo


Preparai-vos, ó meros mortalíssimos
Olhos; entrar-vos-á tal grande furto;
Não espereis um justo e magno surto,
A retirar o roubo a que bem vimos.

Um estridente som, bem preto e rubro,
Pelo supremo rei soa em relvado,
Saqueia os pontos destro e bem malvado,
Garante a glória e diz:--Meu bem, te cubro!

Rouba o gostoso odor da glória alheia;
O vão achar-se empina grão nariz,
Que muitas vezes deita em mau cariz.

Do desonesto intento são bem cheias;
Linha lírica assento em amarelo,
Descortinando as luzes do castelo.

(Yan Marinho)