Em um lugar não muito distante de nossas vidas,há um planeta onde a perfeição é rainha absolutista. Os dentes são brancos--aliás,não falta um sequer-- e as bundas,redondinhas e brilhantes como um intenso luar. Os corpos parecem haver saído das mãos de Praxíteles,proeminente escultor grego do século IV anterior a Cristo,e expostos em um grande evento artístico o qual não se paga um centavo sequer para apreciar e que está disponível em praticamente qualquer lugar,a não ser que o local seja desprovido de portais para ingressar em ou assistir,à certa distância, a esse maravilhoso planeta azul.
Nesse planeta,os sorrisos e risadas surgem vigorosos e numerosos como herbáceas em um terreno abandonado. Não há tristeza,dor ou quaisquer manifestações negativas no planeta azul.
O que dizer das águas das praias,rios,lagos e cachoeiras do planeta azul? Não há uma em que você não possa ver o baile semi-Bolshóico dos peixes e mamíferos aquáticos,para o deleite dos habitantes desse planeta,que sempre aproveitam para deliciar-se com as estáticas e límpidas águas que repousam sobre seus dorsos,que também podem ser vistos à superfície.
A liberdade da qual os viventes do planeta gozam é plena. Eles podem escolher,por exemplo,se seus atos podem permanecer na eternidade semi-duradoura que passeia na estrada contínua e linear do tempo ou se podem mostrar-se voláteis como éter,desabrochando e revelando-se ao público para logo depois afogar-se no lago escuro e profundo da inexistência,restando uma mera sombra na mente dos que viram,mas que também logo se apagará,junto com--pasme!--as aparentemente fortes impressões artificiais.
O planeta azul é terreno fértil para os agricultores do hedonismo sem freios,que gostam de,frequentemente,plantar suas sementinhas em vastas áreas sem,contudo, querer colher os frutos,deixando-os perecer ou arrancando-os ainda brotos.
Boa notícia para os apreciadores vorazes do etanol:as bebidas são variadas e sempre geladas no planeta azul. A temperaturas semi-polares,desfilam Big Apple,Cirok,Heineken,12 anos e até Glacial,cuja recepção pode ser refinada ao sabor do gosto do freguês--até o ponto em que ainda há algum refinamento.
Felizes daqueles que habitam o planeta azul,terra dos amigos que sempre se zoam e nunca brigam,onde o conceito de mal é inexistente e sequer pode ser desenhado com as cinzas das explosões sinápticas.Os namoros e casamentos,sempre renovados,seja por prolongadas e ardentes fricções labiais ou por um breve contato bucal que sela as juras do amor eterno,sempre disponível no azul.Uma pena que fui proibido de entrar nele,pois carregava a morbidez demasiada cravada pela implacável realidade do outro mundo,do qual escrevo, que me insiste em assombrar. Mas,um dia,ainda tentarei de novo. Se conseguir,entrarei sem malas para não dar vontade de ficar nele.